Gonçal Mayos PUBLICATIONS

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Nov 9, 2019

PERE CASALDÀLIGA




Recollim seguidament els tres sentits discursos sobre Pere Casaldàliga pronunciats a l'Ateneu Barcelonès pels seus amics i intel.lectuals brasilers:


O Reino de Deus e o agir dos cristãos no mundo 

Durval Ângelo Andrade, professor, assessor do Cefep e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG)
 

É verdade que o Reino de Deus é oferecido a todos, é um presente, mas não é colocado à disposição em um prato de prata. Requer um dinamismo: trata-se de buscar, caminhar, mexer-se. Papa Francisco

Refletir sobre o Reino de Deus impõe-nos, como ponto de partida, situar de que Reino estamos tratando. Afinal, o “reinocentrismo” - a centralidade do Reino de Deus na espiritualidade – remete a diferentes temáticas da identidade cristã. Para os propósitos deste artigo, importa-nos a sua expressão no agir dos cristãos no mundo.  
Na perspectiva da “espiritualidade da libertação”, tal como abordada por Dom Pedro Casaldáliga e o teólogo José Maria Vigil (1993), buscamos identificar na prática de “Jesus histórico” o essencial no cristianismo, enquanto instrumento de transformação da realidade.  Em outras palavras, trata-se de identificar, no modo como Jesus viveu na Terra sua obediência ao Pai, qual é a interpelação de Deus aos cristãos e como estes devem vivenciar a sua fidelidade a Jesus.
“Qual é o centro, a prioridade absoluta, o que se constitui na fonte última de sentido e de esperança para nossa vida e nossa luta?” (CASALDÁLIGA; VIGIL, 1993, p. 108). Esta é a pergunta que move a reflexão dos autores. Diante da complexidade da discussão e de suas múltiplas dimensões, eles apresentam várias premissas a serem consideradas para uma definição do Reino de Deus.
A primeira delas é a de que Jesus não é o centro, nem a finalidade última da fé cristã, devendo ser compreendido “a partir de algo distinto e maior do que ele mesmo, e não diretamente em si mesmo" (CASALDÁLIGA; VIGIL, 1993, p. 109). Há que se fugir da redução personalista da fé cristã à figura de Jesus, ou do Espírito Santo, ou da Trindade, o que somente conduz ao cultivo da religião pela religião.
No caminho contrário, “Jesus histórico” nos mostra que o centro do cristianismo é exterior à experiência religiosa: está fora, no mundo, no trabalho quase braçal da construção do Reino. Da mesma forma, para Jesus, o central não é Deus em si mesmo. O “Deus de Jesus” existe em uma perspectiva relacional com a história e com a humanidade. Por isso mesmo, para compreender o Reino de Deus, é imprescindível que se considere o caráter diverso da espiritualidade dos diferentes povos e culturas.
Nossa espiritualidade não se centra nunca "só em Deus" ou num "Deus somente" nem sequer num "Deus só". Aqui o solus Deus, ou o "só Deus basta" ficam-nos necessariamente reformulados a partir do absoluto do Reino. Para nós não basta só a invocação de Deus. Precisamos discernir e saber com segurança se atrás do Deus invocado está Júpiter, Moloc, Mamon ou o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. A simples referência a "Deus" não garante o adjetivo cristão (CASALDÁLIGA; VIGIL, 1993, p. 109).
É neste sentido que bordões como “Deus acima de todos” – adotado por Jair Bolsonaro - podem não passar de mera idolatria, caso não sejam acompanhados de ações concretas e claras de compromisso com o Reino de Deus; além de consistirem em um erro teológico profundo. Afinal, Deus não está acima de todos: Ele é parte do “todos”.
Como explicita a máxima do Evangelho de Mateus, “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7,21). E qual é a vontade do Pai? A construção do Reino de Deus.
Jesus faz tal alerta, respaldado pela boa tradição do Primeiro Testamento, onde estão os dez mandamentos, os quais, como judeu, Ele conhecia muito bem. Mais particularmente, referia-se ao segundo mandamento, que diz: “Não pronunciarás o nome de Javé, seu Deus, em vão, porque Javé não deixará impune aquele que pronunciar o seu nome em vão” (Ex 20,7).
Assim, tanto pelos ensinamentos de Jesus, quanto pelos ordenamentos do Primeiro Testamento, podemos constatar que colocar Deus acima de todos não somente é um princípio idolátrico, como consiste na negação de Deus verdadeiro. 
Tampouco a “Igreja” é central para Jesus. Ele, por sinal, jamais teve a intenção de fundar uma Igreja, nos moldes que conhecemos hoje. O eclesiocentrismo, ou a redução e sujeição do cristianismo à Igreja, consiste em uma heresia cristã por muito tempo disseminada e que foi responsável por atrocidades cometidas no passado.
Também não é absoluto o reino “dos céus”, enquanto um lugar ou uma promessa somente concretizada em outro mundo. Ainda que muitos cristãos sejam seduzidos pela figura mítica da “salvação eterna”, o fato é que não há no Evangelho passagem em que Jesus aponte o céu como central, especialmente "em sua versão absolutamente transcendente e em distinção e oposição a que esse último se realize de alguma forma na história dos homens" (CASALDÁLIGA; VIGIL, 1993, p. 110).
Conforme alertam os autores, a visão puramente transcendental da salvação em outro mundo, ou sujeita à volta de Jesus, é alienante e impede que o Reino seja construído no cotidiano dos cristãos e cristãs. A “espiritualidade da libertação” se contrapõe a esta perspectiva, com a premissa de que o absoluto para Jesus é o Reino de Deus, o que pode ser identificado na oração que Ele mesmo nos ensinou, quando clama: “Venha o teu Reino” (Mt 6,10).
Mas o que o Reino de Deus representa, na visão de Jesus histórico? Citado 122 vezes no Evangelho, 90 delas por Jesus, ele é como um fio condutor de Sua caminhada. É o propósito que a tudo inclui, consistindo-se como causa maior e finalidade do cristianismo.
O Reino é o senhorio efetivo (reinado) do Pai sobre todos e sobre tudo. Quando Deus reina, tudo se modifica. "Justiça, liberdade, fraternidade, amor, misericórdia, reconciliação, paz, perdão, imediatez com Deus...  constituem a causa pela qual Jesus lutou, pela qual foi perseguido, preso, torturado e condenado à morte". E tudo isso é o Reino (CASALDÁLIGA; VIGIL, 1993, p. 111).
Daí o caráter político, revolucionário e transformador do Reino de Deus, bem como sua exigência de um agir cristão no mundo dos homens. Jesus nos insta a trabalhar por sua construção, como o operário que constrói um edifício, ou um lavrador que semeia a terra de sol a sol.  Afirma Ele que o Reino de Deus “é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças, com ramos grandes a tal ponto, que os pássaros do céu podem fazer seus ninhos em sua sombra” (Mc 4, 30-32).
Ressalte-se que o Reino de Deus não se relaciona à santidade, mas ao profano existente nas mediações que a sua construção requer. Funda-se no cotidiano das pessoas. Não é da ordem de outro mundo, mas do velho mundo, transformado em novo: "o novo céu e a nova terra", como afirma Leonardo Boff, citado por Casaldáliga e Vigil (1993, p. 111).
Ser cristão, portanto, não se resume apenas a seguir Jesus. Representa ir além e lutar pelas causas que Ele abraçou. Esta é a “missão fundamental” do cristão e condição primária para o cumprimento das demais. Infelizmente, não é raro que, por ignorância ou arrogância, tais causas sejam negadas por pretensos seguidores de Jesus e, o pior, muitas vezes, em Seu próprio nome.
Compreender a dimensão histórica do cristianismo requer refletir sobre o projeto de Deus para o mundo. Foi para nos apresentar a sua “utopia” que Ele nos enviou seu filho. O Reino de Deus representa, assim, a vontade de Deus para a raça humana; um projeto a ser realizado por homens e mulheres, e para eles.
A construção do Reino de Deus é o sentido da vida na Terra; um chamado inscrito no coração de cada ser humano e coletivamente, intuído pelos inúmeros povos que habitaram e habitam o planeta, conformado a religiões, culturas e valores diversos. É evidente que, para os cristãos - por Jesus centrar sua vida/pregação no Reino de Deus -, para todos os crentes no Deus de todos os nomes - por viverem a dimensão do Absoluto Maior em suas vidas –, e para “todos os homens/mulheres de boa vontade” - por buscarem um mundo justo e humano -, este diferencial aumenta as responsabilidades na concretização da “utopia”.
A vivência concreta do Reino de Deus não existe fora da realidade humana e de sua caminhada histórica, sendo a fé a principal ferramenta para a sua compreensão e construção. É por acreditar e confiar no projeto de Deus que nos lançamos à tarefa de acelerar a “obra”, que já se encontra em plena execução. Para tanto, utilizamos mediações, sendo a militância uma delas, ou, talvez, a principal expressão concreta do Reino de Deus, quando colocada a serviço dele. É nesta perspectiva militante e política que o reinocentrismo se define enquanto práxis histórica, utópica, ecumênica, libertadora, não eclesiástica, e a partir dos pobres.
A militância é fundamentalmente uma atitude de serviço no horizonte das grandes causas de nosso povo. Um serviço que leva em conta a situação dos povos e seus processos históricos. Um serviço que valoriza as organizações dos mesmos povos, suas reivindicações, e que entra na reivindicação de tudo o que for justiça, igualdade, identidade, alteridade, projeto da nova sociedade. Não é só disponibilidade, serviço. É servir "organizadamente". Um serviço às grandes causas do povo, a suas lutas, a suas reivindicações. É um servir político, revolucionário inclusive. O militante é capaz de ir percebendo constantemente o clamor do povo, suas reivindicações, e está disposto a entrar em sua marcha, em seus processos, em suas lutas concretas (CASALDÁLIGA, VIGIL, 1993, p. 75-76).
Do que se conclui que somente o Reino de Deus é absoluto e no objetivo de construí-lo realizamos a práxis cristã. É no serviço ao Reino que encontramos o real significado da nossa existência e nele todas as demais dimensões da vida adquirem sentido. Eis o essencial do cristianismo, o grande querigma e o cerne da mensagem de Jesus.

Tudo está conectado
O Reino de Deus se concretiza na caminhada histórica da humanidade e é impossível falar de sua construção sem atentar para aquele que, na atualidade, é o principal desafio à sobrevivência da raça humana: a preservação do planeta Terra. O tema vem sendo tratado por vários teóricos, a exemplo de Leonardo Boff (2013), para quem desigualdade social e destruição ambiental são mazelas de um mesmo sistema.
(...) há uma patologia aguda inerente ao sistema que atualmente domina e explora o mundo: a pobreza, a desigualdade social, o esgotamento da Terra e o forte desequilíbrio do sistema-vida; as mesmas forças e ideologias que exploram e excluem os pobres estão também devastando toda a comunidade de vida e minando as bases ecológicas que sustentam o Planeta Terra.
Ao apontar a “situação dramática” do planeta, com o esgotamento de seus recursos, flora e fauna e inúmeras ameaças à vida na Terra, Boff identifica a necessidade de que o ser humano se reinvente como espécie, saindo do lugar de senhor sobre as coisas para se tornar “irmão” delas. Neste sentido, é fundamental a emergência de um novo “design ecológico”, no qual a raça humana viva de acordo com os ritmos da natureza, na compreensão de que ela só existe em uma estrutura sistêmica na qual tudo está inter-relacionado.
Segundo o teólogo, cooperação e solidariedade - entre homens e mulheres, e destes com a natureza – são a chave para a sustentabilidade da vida no planeta, em todas as suas expressões, inclusive a humana. Trata-se, em última instância, de uma questão de sobrevivência da espécie.
Também o Papa Francisco tem manifestado grande preocupação com a perspectiva ecológica da construção do Reino de Deus. Em sua encíclica Laudato Si (Louvado Sejas), publicada em 2015, ele frisa que “tudo está conectado”, não podendo o ser humano ser dissociado da natureza. Neste sentido, destruir a natureza é destruir a raça humana, consistindo em um pecado para os cristãos.
Na mesma lógica, a preservação do meio ambiente implica também na proteção dos seres humanos, sobretudo os mais pobres e vulneráveis. Francisco denomina esta inter-relação em rede como “ecologia integral”, a qual permeia tanto suas argumentações religiosas, quanto políticas. Entre as suas principais preocupações, está o aquecimento global e a ineficiência das conferências e acordos internacionais para fazerem frente ao grave problema.
Para o pontífice, os padrões insustentáveis de produção e consumo da sociedade atual são responsáveis pela degradação das relações humanas e destruição da “nossa casa comum”: o planeta. De forma que a crise climática é uma das faces de uma crise ética da humanidade, resultante da ruptura das três relações fundamentais da existência humana: com Deus, com o próximo e com a Terra. Francisco faz um alerta contundente para a finitude dos recursos do planeta.
Sempre se verificou a intervenção do ser humano sobre a natureza, mas durante muito tempo teve a característica de acompanhar, secundar as possibilidades oferecidas pelas próprias coisas; tratava-se de receber o que a realidade natural por si permitia, como que estendendo a mão. Mas, agora, o que interessa é extrair o máximo possível das coisas por imposição da mão humana, que tende a ignorar ou esquecer a realidade própria do que tem à sua frente. Por isso, o ser humano e as coisas deixaram de se dar amigavelmente a mão, tornando-se contendentes. Daqui passa-se facilmente à ideia dum crescimento infinito ou ilimitado, que tanto entusiasmou os economistas, os teóricos da finança e da tecnologia. Isto supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a “espremê-lo” até ao limite e para além do mesmo. Trata-se do falso pressuposto de que “existe uma quantidade ilimitada de energia e de recursos a serem utilizados, que a sua regeneração é possível de imediato e que os efeitos negativos das manipulações da ordem natural podem ser facilmente absorvidos (LS, 106).
Além do clima, o Papa chama a atenção para outros “gargalos” ambientais, tais como a poluição dos oceanos e rios e ameaça de extinção de espécies animais, florestas e povos indígenas. Ele culpa os países desenvolvidos, dos quais cobra uma compensação aos países pobres pela degradação. Já para as nações em desenvolvimento, o recado é para que busquem superar a pobreza e avaliem o “superconsumo” de suas elites, a fim de que não sigam o mesmo caminho dos países ricos.
Um aspecto importante da encíclica é a contestação da interpretação equivocada da Bíblia, que coloca nas mãos do homem o domínio sobre a natureza. Assim como Boff, o Papa argumenta que outras espécies não devem ser colocadas em subordinação à espécie humana para sua livre exploração, pois todas têm um valor intrínseco e, se extintas, “já não darão glória a Deus”. À visão de dominação do homem, Francisco contrapõe a noção holística do “cuidado com a Casa Comum”, sendo o ser humano compreendido como parte da natureza, e não como algo separado e acima dela.
Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada. Isto permite responder a uma acusação lançada contra o pensamento judaico-cristão: foi dito que a narração do Gênesis, que convida a “dominar” a terra (cf. Gn 1, 28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a Terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas (LS, 67).
Além de apresentar críticas, a encíclica aponta alternativas, tais como o desenvolvimento de energias limpas e renováveis e a redução “drástica” das emissões de gases do efeito estufa nos próximos anos. Mas o Papa chama a atenção para os riscos de se tentar resolver problemas ambientais somente por meio das chamadas “soluções tecnológicas”, o que pode levar ao isolamento de questões que, na realidade, estão conectadas, e resultar na ocultação de problemas mais profundos.
Evitando limitar a discussão somente à Igreja Católica, ele busca a interface com outras denominações religiosas e com diferentes esferas da sociedade, propondo, por exemplo, um amplo diálogo entre ciência e religião. Outro aspecto ressaltado é o de que a destruição ambiental configura também uma ameaça à paz, tendo em vista as disputas cada vez mais acirradas por recursos naturais, seja em campos de batalha, seja no campo da política, da diplomacia, ou dos acordos comerciais. “É previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações”, alerta.
O pontífice cita nominalmente a Amazônia e provoca setores da Igreja latino-americana, ao condenar propostas de internacionalização da floresta, as quais, a seu ver, “servem unicamente aos interesses econômicos das multinacionais”. Ele avança em sua proposta de “ecologia integral”, inserindo entre seus elementos a desigualdade social planetária e afirmando a necessidade de que seja ouvido tanto “o clamor da Terra”, quanto “o clamor dos pobres”, que, distantes dos centros de poder, acabam também invisíveis aos meios de comunicação.
Aponta, ainda, a responsabilidade do capitalismo na crise ambiental do planeta e, ao citar o estouro da bolha financeira, na crise de 2007-2008, lamenta que a sociedade tenha deixado passar a oportunidade de corrigir a economia. Ao propor uma nova economia, que reduza o desperdício e o impacto ambiental, Francisco condena a crença de que o “mercado” seja capaz de se autorregular, sobretudo, no que tange ao desequilíbrio ambiental.
A proteção ambiental não pode ser assegurada somente com base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente. Mais uma vez repito que convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Será realista esperar que quem está obcecado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais que deixará às próximas gerações? Dentro do esquema do ganho não há lugar para pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação e regeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem ser gravemente alterados pela intervenção humana. Além disso, quando se fala de biodiversidade, no máximo pensa-se nela como um reservatório de recursos econômicos que poderia ser explorado, mas não se considera seriamente o valor real das coisas, o seu significado para as pessoas e as culturas, os interesses e as necessidades dos pobres (LS, 190).
Reverter a degradação do planeta é, portanto, uma questão de justiça para com as futuras gerações e de preservação da própria vida humana. Neste sentido, o papa defende a formação de um consenso político mundial em torno de um grande projeto que priorize: a agricultura sustentável e diversificada; o desenvolvimento de formas de energia renováveis e pouco poluidoras; maior eficiência energética; a gestão mais adequada dos recursos florestais e marinhos, bem como garanta o acesso de todos à água potável.
Francisco não se exime de fazer duras críticas à falta de vontade política para a solução dos desafios ambientais, sejam globais, nacionais ou locais. Neste contexto, destaca o drama de um sistema político apoiado em resultados imediatistas e no crescimento a curto prazo, e cujos interesses eleitorais desencorajam os governos de adotarem medidas de redução do consumo, uma vez que podem desagradar eleitores e investidores.
O Papa propõe a adoção de uma nova economia e um novo estilo de vida, na contramão do consumismo e do individualismo característicos da atualidade. Dirigindo-se especificamente aos cristãos, ele os interpela com a urgência de uma “conversão ecológica”, colocando a preocupação ambiental como um imperativo moral dos seguidores de Jesus.
(…) a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar seus conceitos e hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir nas relações com o mundo que os rodeia todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa (LS, 217).
Mais do que nunca, neste momento em que a vida no planeta começa a ser seriamente afetada pela degradação ambiental, com danos concretos à fauna, flora e à existência humana, o engajamento do cristão na causa ambiental é um imperativo. Em 29 de julho de 2019, a organização sem fins lucrativos Global Footprint Network anunciou que a humanidade já havia esgotado todos os recursos naturais que tinha para o ano. Ou seja, o planeta já consumia quase o dobro de sua capacidade de regeneração.
Para agravar o quadro, no momento em que concluímos este artigo, a população mundial assiste, estarrecida, à Amazônia brasileira arder em chamas, em inúmeros focos de incêndio que queimam quilômetros e quilômetros de florestas e matam milhares de animais. Enquanto isso, o presidente do país tenta minimizar a tragédia e culpar as organizações ambientalistas pela repercussão do fato.
Não há dúvidas de que, para além da conscientização ambiental das pessoas, somente a organização e mobilização popular será capaz de forçar os poderosos do mundo a adotarem medidas para conter a devastação. E, nesta tarefa, os cristãos comprometidos com o “Reino de Deus” têm um papel fundamental.
Santo Agostinho costumava dizer que Deus escreveu dois livros, e o primeiro deles não foi a Bíblia, mas a criação, a natureza, a vida, como aponta o teólogo e frade carmelita Carlos Mesters (2011, p. 102): “É pelo Livro da Vida que Deus quer falar conosco. Deus criou as coisas falando. Ele disse: ‘Luz!’. E a luz começou a existir. Tudo que existe é a expressão de uma palavra divina. Cada ser humano é uma palavra ambulante de Deus. Será que nós temos consciência disso?”, questiona.
Preservar a vida no planeta é, portanto, a primeira mensagem de Deus em seu diálogo inicial com a humanidade e premissa maior em seu plano de bondade. Trata-se de um mandamento implícito que os cristãos devem observar.

Terra, Teto e Trabalho
A preocupação com as desigualdades sociais e com a opressão dos mais pobres pode ser entendida como a outra face da “ecologia integral” cunhada pelo Papa Francisco. A doutrina social defendida por ele foi explicitada em seus três “Encontros Mundiais de Movimentos Populares em Diálogo com o Papa Francisco”, realizados em 2014, em Roma (Itália), em 2015, em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) e em 2016, novamente em Roma.
Os encontros partiram de uma iniciativa do Papa em dialogar com movimentos populares de todo o mundo, estimulando a organização dos trabalhadores e dos mais pobres com vistas a transformações no sistema capitalista. Os delegados participantes foram escolhidos entre dirigentes de movimentos dos seis continentes, com a orientação de que se buscasse a maior pluralidade possível, tanto étnica, quanto cultural, etária, de gênero e religiosa.
Em seus pronunciamentos nos três encontros, Francisco não se posicionou frontalmente contra o “mercado”, mas fez críticas contundentes a um modelo econômico gerador de exclusão e desigualdade. Colocando-se ao lado dos movimentos organizados que representam a luta dos mais pobres e oprimidos, voltou para eles os holofotes reservados aos grandes temas mundiais. Incentivando-os a lutar, por meio da política, para alterar a correlação de forças que hoje dá o tom da economia mundial, o Papa avalizou a luta por uma justa distribuição dos recursos. Por outro lado, também alertou para os perigos na relação dos movimentos com a política, sobretudo, o de se deixarem enquadrar, ou corromper.
O Papa Francisco não colocou a fé como pré-requisito para o seu apoio e, assim, fez com que os movimentos sociais se sentissem representados por ele. E foi além, ao acenar para uma guinada na Doutrina Social da Igreja Católica. Com a proposta de aglutinação dos movimentos sociais, populares e de trabalhadores - que atuam com bandeiras diversas e em diferentes contextos - Francisco não tem a intenção de convertê-los, mas de acompanhá-los em seu percurso. Ele demonstra, desta maneira, que as pautas sociais estão no centro da agenda de seu pontificado e se contrapõe aos mais caros paradigmas do capitalismo.
A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada.
O trecho do discurso do Papa em Santa Cruz de La Sierra, em 2015, evidencia suas inspirações na teologia do povo. No pronunciamento, ele também incentivou a mobilização popular, em detrimento da luta de classes.
Em 2014, no primeiro encontro, Francisco havia discutido com movimentos populares a construção de um programa social mundial. Com uma concepção ampliada da “opção preferencial pelos pobres”, mais do que como objetos de solidariedade, o Papa reconheceu os pobres como sujeitos sociais e políticos. A partir do debate sobre os problemas dos trabalhadores, foi apresentado um amplo diagnóstico e reflexões sobre as saídas necessárias. Como referência foram elencadas três lutas sociais mobilizadoras, conhecidas como os “3 Ts: Terra, Teto, Trabalho”. Outro tema de reflexão, naquele momento, foi a crise ambiental do planeta e as discussões foram ponto de partida para a encíclica papal Laudato Si, publicada no ano seguinte.
Em 2015, na Bolívia, cerca de cinco mil militantes, de 40 países, discutiram os princípios de uma plataforma comum dos movimentos sociais. O Papa também levantou a discussão acerca do direito de todos os povos à soberania popular sobre seu território, inclusive sobre suas riquezas naturais, que devem ser revertidas em benefício do povo, e não apenas exploradas como mercadorias por empresas capitalistas.
Já em 2016, em Roma, os debates foram pautados por questões referentes ao Estado e à democracia, com uma crítica de que o Estado burguês não mais representa as bases republicanas dos interesses da maioria. O encontro também definiu metas: o fim da privatização da água; a defesa da soberania alimentar; o salário social universal; a inviolabilidade da casa familiar; a criação de uma rede de mobilização contra os casos de injustiça e perseguição em qualquer país do mundo.
Nesse terceiro encontro, com a participação de mais de 200 delegados, de 60 países, o Papa incentivou uma articulação dos movimentos, em nível mundial, que suscite mobilizações e ações para o enfrentamento dos problemas provocados pelo capitalismo.
Ainda que os objetivos definidos sejam genéricos e a plataforma muito heterogênea, o esforço do Papa Francisco tem sido fundamental, tanto para a criação de redes dos movimentos em escala continental, quanto para o aprofundamento da discussão acerca da Doutrina Social da Igreja.
Convocando os movimentos sociais, o Papa busca ouvir diretamente os que padecem com a opressão e a exploração do trabalho e dos recursos naturais empreendidas pelo capitalismo desenfreado, sem recorrer, para isso, à intermediação de sociólogos, cientistas políticos e sociais, ou de pastorais da própria Igreja, como costumava acontecer. Dá voz, assim, às classes populares normalmente silenciadas, tanto pela invisibilidade quanto pelo medo, como Francisco mesmo afirmou em seu discurso:
Então, quem governa? O dinheiro. Como governa? Com o chicote do medo, da desigualdade, da violência financeira, social, cultural e militar que gera cada vez mais violência numa espiral descendente que parece infinita. Quanta dor e quanto medo! Existe — como eu disse recentemente — um terrorismo de base que provém do controle global do dinheiro na terra, ameaçando a humanidade inteira. É deste terrorismo de base que se alimentam os terrorismos derivados, como o narcoterrorismo, o terrorismo de Estado e aquele que alguns erroneamente chamam terrorismo étnico ou religioso.
Com um pontificado reformista e a postura corajosa de se opor ao capitalismo depredatório e defender o campo político como espaço de transformação social, Francisco vai na contramão da tradição diplomática do Vaticano – de aparente neutralidade - e assume claramente um lado: o lado dos pobres, dos oprimidos e explorados; o lado certo da história.
Com seu exemplo, o Papa dá testemunho do verdadeiro papel dos cristãos. Na tarefa de construção do “Reino de Deus” eles precisam, necessariamente, assumir um compromisso radical com os mais carentes; com aqueles que não têm os três Ts de Francisco: terra, teto e trabalho. Eis a causa fundamental dos cristãos, que ganha ainda maior relevância quando se vê, no Brasil e em outros países, a ascensão de governos conservadores, incentivadores do ódio, da intolerância, discriminação e preconceito.
Vivemos em um cenário de flagrante retrocesso, no qual a luta social em defesa dos três Ts é criminalizada, levando muitos e muitas a abandonarem a causa, seja por desânimo, seja por medo. O próprio Papa tem sido perseguido por levantar esta bandeira. Os muros do Vaticano são pichados com frases de ataques a ele e setores conservadores da Igreja tentam articular seu impeachment.
Resgatar os cristãos e cristãs que esmoreceram pelo caminho e prosseguir com coragem e determinação é o nosso grande desafio. Miremo-nos no exemplo de Jesus, que por sua opção radical pelos pobres e excluídos foi levado ao martírio e crucificação, sem jamais negar a causa da construção do Reino de Deus.

"A política é uma vocação de serviço"
A frase é do Papa Francisco, durante encontro com participantes de um programa de pós-graduação em Doutrina Social da Igreja e compromisso político na América Latina, realizado no Vaticano, em 4 de março de 2019. Na ocasião, o Papa voltou a ressaltar a necessidade de “uma nova presença de católicos na política na América Latina”.
Francisco não fala de novos políticos, mas de práticas diferentes na política, capazes de romper com os modelos vigentes e propor alternativas que visem ao bem comum. Reconhecendo que vivemos uma mudança de era, com quebra de paradigmas, ele aponta a exigência de novas linguagens, símbolos e métodos.
Para o Papa Francisco, ser um católico politicamente engajado não se reduz a uma obediência ideológica. Não representa militar por um grupo, organização, ou partido, mas viver em comunidade, assumindo a tarefa da transformação social, a partir do Evangelho. 
Como nos incita o Papa, inspiremo-nos em São Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador (El Salvador), que guiado pela Doutrina Social da Igreja lutou profeticamente e “politicamente”, dando a vida em defesa dos excluídos e oprimidos de seu país. Assim como Dom Romero, devemos resgatar os motivos pelos quais vale a pena fazer política, superando uma visão meramente ideológica.
Nesta perspectiva, a política não tem uma dimensão puramente instrumental, de meio para se atingir um fim. Adquire o sentido de servir ao próximo. “A política não é a mera arte de administrar o poder, os recursos ou as crises. A política é uma vocação de serviço”, afirmou Francisco.
Aos católicos militantes, o Papa orienta que se dediquem a atividades políticas de “vanguarda” e ressalta que as mulheres, os jovens e os mais pobres têm papel preponderante na mudança. Não como meros objetos de assistência, mas como sujeitos da transformação. Aponta, ainda, que a organização popular tem lugar central neste novo agir político: “Fazer política inspirada no Evangelho, a partir do povo em movimento pode se tornar uma maneira poderosa de sanar nossas frágeis democracias e de abrir o espaço para reinventar novas instâncias representativas de origem popular”, considera.
Francisco rechaça a ideia de um “partido católico”, acalentada nos primórdios da Doutrina Social da Igreja, e defende que o compromisso político dos católicos deve ser plural, vivido com liberdade e sem submissão a um “pensamento único”. O que deve pautar o agir político dos cristãos no mundo é a luta pelo povo; a luta por justiça social.
A Doutrina Social da Igreja coloca, assim, a política como lugar privilegiado da prática da caridade cristã. Ela deve ser assumida com visibilidade e engajamento, bem como traduzida em ações concretas. Não se trata, aqui, somente da política institucional, muitas vezes, rechaçada pelos cristãos e cristãs. O agir político pode ocorrer em múltiplas dimensões. Ele está nas mobilizações em defesa das liberdades democráticas e dos direitos fundamentais, especialmente neste momento em que o Brasil vive um profundo fechamento político. Ocorre na resistência aos retrocessos e na denúncia das violações dos direitos humanos, bem como na militância nos movimentos sindicais, sociais, populares e de causas identitárias. Está presente, ainda, nas bandeiras ambientalistas, em defesa dos animais, pela preservação de nossas florestas, rios e oceanos, dentre tantas outras causas.
E, naturalmente, a política institucional é um importante espaço do agir cristão. É preciso que tenhamos a coragem de assumir que o Reino de Deus também se constrói com esta ferramenta, por meio das filiações e militância partidárias e das candidaturas para cargos públicos, desde que assumam as causas dos mais pobres e oprimidos. Mesmo com tantos desvios nesta seara, trata-se de um caminho concreto para a transformação social, e os cristãos e cristãs não podem se omitir neste sentido. Sobretudo nestes tempos de exaltação ao ódio e à morte, faz-se cada vez mais urgente que tenhamos no poder aqueles que estão comprometidos com a defesa da vida, bem maior da humanidade, como nos mostrou o próprio Cristo, ao anunciar: “Eu vim para que todos tenham vida e tenham vida com fartura” (Jo 10,10).
 
REFERÊNCIAS
"A política é uma vocação de serviço", destaca Papa. Canção Nova. 4 mar. 2019. Disponível em: https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/a-politica-e-uma-vocacao-de-servico-destaca-papa/ . Acesso em: 22 ago. 2019.
BOFF, Leonardo. O mundo em que vivemos é ecocida. 2013. Disponível em: https://leonardoboff.wordpress.com/2013/10/20/o-mundo-em-que-vivemos-e-ecocida/ . Acesso em: 22 ago. 2019.
CASALDÁLIGA, Pedro; VIGIL, José Maria. Espiritualidade da libertação. Petrópolis: Vozes, 1993.
FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si. Vaticano: 2015. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html . Acesso em: 22 ago. 2019.
FRANCISCO. Participação ao II Encontro Mundial dos Movimentos Populares: discurso do Santo Padre. Vaticano: 2015. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/july/documents/papa-francesco_20150709_bolivia-movimenti-popolari.html . Acesso em: 22 ago. 2019.
MESTERS, Carlos. Os dois livros de Deus. In: VIGIL, José Maria; CASALDÁLIGA, Pedro. Agenda Latino-americana mundial 2011. Panamá, 2011. Disponível em: http://latinoamericana.org/digital/2011AgendaLatino-americanaBrasil.pdf . Acesso em: 28 ago. 2019.
STEDILE, João Pedro. O papa Francisco e os movimentos sociais em Roma. 2016. Disponível em: https://leonardoboff.wordpress.com/2016/11/15/o-papa-francisco-e-os-movimentos-sociais-em-roma-j-p-stedile/ . Acesso em: 22 ago. 201.
Dom Pedro Casaldáliga: o bispo da luta dos pobres!
Rodrigo Marzano Antunes Miranda [1]


COMO ESTÁ A LUTA? (para quem o conhece em meu país, sabe que esta saudação singela é comum para Pedro. Assim começamos esta homenagem: o bispo catalão/brasileiro se faz presente!
Em nome de toda a militância social brasileira e em dos que aprenderam com ele a opção preferencial pelos pobres da Terra, aos 91 anos, completados no dia 16 de fevereiro, dia em que rezei com a Igreja o evangelho da multiplicação dos pães...
Leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 8,1-10

1 Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinha o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2 “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe”.
4 Os discípulos disseram: “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?” 5 Jesus perguntou-lhes: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete”.
6 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, e deu graças, partiu-os e ia dando aos seus discípulos, para que o distribuíssem. E eles os distribuíram ao povo.
7 Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. 8 Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9 Eram quatro mil, mais ou menos.


Casaldáliga é um dos exemplos de vida, de compromisso com os índios, com os camponeses, com a humanidade: Dom Pedro Casaldáliga. É um homem que nos orgulha, que nos dá muita força, muita energia, principalmente nesses momentos difíceis.
O Bispo do povo, Dom Pedro Casaldáliga, é nascido em Barcelona, é um bispo católico radicado no Brasil desde 1968. Atualmente, é bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia. Mudou-se para o Brasil para fundar a Missão Claretiana no Estado do Mato Grosso, uma região com um alto grau de analfabetismo, marginalização social e concentração fundiária, onde eram comuns os assassinatos de pequenos agricultores e trabalhadores sem-terra.
Casaldáliga, então, começou a dar mostras de sua inteira adesão aos ensinamentos do Evangelho, sobretudo o de identificar os princípios desse Evangelho com os mais desfavorecidos e identificar-se com esse povo. E neste lado do Brasil os mais desfavorecidos são centenas de milhares de camponeses sem-terra, pobres, analfabetos e oprimidos por coronéis e políticos.
Assim, ele rezava missa para os moradores no quintal de sua casa, entre as galinhas, e à noite deixava sua porta principal aberta, para o caso de alguém que eventualmente precisasse usar uma cama, a qual estava sempre estava disponível. Andava de jeans e chinelos e tinha duas mudas de cada roupa. Quando tinha que se reunir com o Episcopado em Brasília, ia de ônibus, em uma viagem de 3 dias, porque era o meio de transporte de sua gente. Seu lema era inegociável: "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar".
Essas ideias progressistas lhe renderam seguidores que o cultuavam nas ruas e um ódio desenfreado em várias instituições. Ele se posicionou em favor dos indígenas da Amazônia, que para os interessados em enriquecer eram os mais fáceis de expulsar de cada território: aliou-se aos xavantes de MARÃIWATSSÉDÉ para retirar grandes produtores rurais de suas áreas e aos ITAPIRAPÉ e aos CARAJÁS, e isto o levou a se confrontar com os latifundiários e as multinacionais e a ditadura militar.
Viu seus companheiros serem mortos por pistoleiros - a conclusão habitual dos conflitos naquela região - e ele mesmo teve que viver escondido por um mês de 2012 por ameaças de morte. Rejeitou andar com escolta e disse: "Eu a aceitarei quando for oferecida também a todos os camponeses de minha Diocese ameaçados de morte como eu.".
O Vaticano o convocou em 1988 para que desse explicações por tanta proximidade da Teologia da Libertação e para que visitasse o Papa João Paulo II, como deveria ter feito uma vez a cada 5 anos, segundo o Código do Direito Canônico.
Apresentou-se com camisa simples, sem anel e com um colar indígena no pescoço. Esclareceu ao Pontífice: "Estou disposto a dar minha vida por [São] Pedro [fundador da Igreja Católica], mas pelo Vaticano é outra coisa". Ao sair do encontro, fez um resumo à imprensa: "Me escutou e não me deu uma reprimenda. Poderia ter feito isso, como nós podemos também fazer com ele". E ponderou: "O Espírito Santo tem duas asas e a Igreja gosta mais de cortar a da esquerda".
Por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil. E como nos coloca João Pedro Stedile, em nome da Via Campesina e do MST. Pedro é um grande homem, que faz parte daqueles que orgulham a humanidade e lutam por justiça.
Não tem como olharmos para vida de Pedro sem olhar, entender e viver suas causas. Como ele mesmo nos diz repetidamente: “Eu creio na justiça e na esperança”. Pedro Casaldáliga.


Pedro, Profeta e Poeta...
"Quem poderia imaginar um catalão, sair de sua terra, nunca mais voltar e apaixonar-se pelos povos indígenas da América Latina?
Quem poderia imaginar em plena ditadura empresarial-militar, nos confins da Amazônia, um homem franzino, usar a fé e a coragem para denunciar e exigir justiça, em defesa dos trabalhadores, posseiros, povos indígenas e camponeses, humilhados e explorados?
Quem poderia imaginar, que, jurado de morte pelos latifundiários da região, em 1976, foram à delegacia interceder por duas mulheres pobres que estavam sendo torturadas. E um dos policiais, confundiu a aparência de bispo e assassinou seu colega, padre João Bosco Burnier, em seu lugar?
Quem poderia imaginar, que um homem de igreja relutasse até os últimos instantes porque não queria ser nomeado bispo, até ser convencido pelo seu melhor amigo, o bispo Dom Tomas Balduino?
Quem poderia imaginar, que quando poucos podiam, ele se engajou desde a década de setenta em defesa da causa dos povos nicaraguense, cubano, guatemalteco.
Quem poderia imaginar que esse homem, além de pastor e profeta, era um grande poeta? Usou as letras e a força das palavras, para denunciar o injusto, solidarizar-se com os trabalhadores e pregar as mudanças. Com sua vocação literária, ajudou a escrever a Missa da terra sem males, a Missa dos quilombos cantada por nosso querido Milton Nascimento e outros músicos. E escreveu centenas de poemas, que expressam a linguagem da alma e do coração.
Quem poderia imaginar, que apesar de viver no longínquo São Félix do Araguaia, e das dificuldades de comunicação da época, contribuiu decisivamente para articular e fundar, primeiro, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na CNBB, para defender os povos indígenas? E depois a Comissão Pastoral da Terra (CPT), como um serviço ecumênico dos cristãos em apoio à organização dos camponeses brasileiros?
Quem poderia imaginar que um bispo Catalão /brasileiro, com todo seu poder e influência, preferisse viver como pobre, entre os pobres, com suas sandálias havaianas e sua sabedoria de verdadeiro mestre?
Quem poderia imaginar sua coragem de ir a Roma e dizer umas verdades para o todo poderoso cardeal Ratzinger? Pedro foi um defensor e praticante do ecumenismo, de todas as práticas e crenças religiosas, de um Deus-Pai-Mãe-Irmão, de todos e todas, que aparece em diferentes formas e práticas. Às vezes, até nas manifestações da natureza e sobretudo na voz do povo!
Quem poderia imaginar, que apesar de conviver muitos anos com seu "irmão" parkison, como o chama, nunca desanimou, recusando-se a mudar para outros centros com maior atenção médica?
Pedro tornou-se em meu país, um grande catalão, um grande brasileiro e latinoamericano. Um exemplo de luta, dignidade e coerência. É nosso orgulho, dos povos indígenas, dos camponeses, dos pobres e de todas as igrejas. Com seus noventa e um anos de corajosa teimosia, palavra, que gosta muito de usar.
Nós nos orgulhamos de seu carinho com o Brasil, com os pobres e agradecemos seu exemplo! Nas suas próprias palavras:


“[...] Primeiro seja o pão
depois a liberdade.
A liberdade com fome
é uma flor em cima de um cadáver”.
                                                      (Dom Pedro Casaldaliga).

[1] Doutorando do Programa de pós-graduação em Cidadania e Direitos Humanos da Faculdade de Filosofia, da Universidade de Barcelona (UB 2019-2020), orientado pelo Prof. Dr. Gonçal Mayos Solsona, mestre em Direito pela UFMG (2019), especializado em Formação Política (lato sensu) PUC-RJ (2007), Graduado em Filosofia (bacharel licenciado) PUC-MG (2005). Hoje é membro de três grupos de pesquisa: o Grupo Direitos Humanos: raízes e asas (UFMG), o Grupo de Pesquisa dos Seminários Hegelianos (UFMG) e o Grupo internacional de Pesquisa em Cultura, História e Estado (UFMG-UB). Sócio efetivo colaborador da Sociedade Hegel Brasileira. Cf. http://lattes.cnpq.br/8767343237031091. E-mail: agendamarzano@gmail.com.


Casaldàliga: una voz viva en tiempos de muerte
João Batista Miguel [1]

Concordamos con Hegel cuando afirma que “cada uno es hijo de su tiempo y que nadie queda atrás o el frente de su momento ni o ultrapasa”[2]. Sin embargo, me parece, y en esto yo creo, que algunas ideas superan la métrica cronológica para insertarse en la lógica del tiempo de Kairós.
Cierta hecha aprendí con el querido profesor José Luiz Borges Horta, de la sede de su magisterio, que “la Razón gobierna el mundo al conducir el tren de la Historia en su destino”[3]. En este viaje, la Razón va ocupándose de grandes hombres y de grandes mujeres para realizarse en plenitud, en el largo y tardado camino a que se destina.
Aquí estamos, en la encrucijada la vida, para dividir, por algunos minutos, nuestro agradecimiento a uno de estos grandes personajes de la Historia: Pere Casaldáliga para a Cataluña. Pedro Casaldáliga para lo Brasil.
Quiero hacer un cumplimiento especial al Profesor Gonçal Mayos que fraternalmente acoge nuestra comitiva; Cumplimiento mis profesores Durval Angelo y José Luiz Borges Horta, mis compañeros de la UFMG.
          Un especial agradecimiento a mis hermanos de la Orden de agostina, que me ofrecerán el pasaje de avión y el hospedaje para que yo pudiera venir a este encuentro.  Sin este auxilio sería imposible yo estar aquí con vosotros.
Pero de modo especial quiero traer de Brasil un abrazo de lucha y fraterno a todos los amigos, admiradores, colaboradores y defensores de las causas del obispo Casaldáliga.
El año 2000, fecha jubilar que acenava el cierre del milenio y el inicio de un nuevo tiempo, la historia de Pere ganó, por el brillante trabajo de Franscesc Escribano[4], una importante obra literaria. Todas las veces en que yo la leo, consigo revivir el olor de aquella tierra, así como recordarme de la lucha y del compromiso que la historia y las causas de Casaldáliga nos inspiran. La obra de Escribano es un gran presente para la historia política, social y eclesiologica de nuestro querido Brasil y merece ser mencionada, citada e incentivada. Recomiendo a todos que lean el libro Descalço sobre la tierra roja.
Gané un ejemplar de este libro de las manos de Casaldáliga, el año de 2011, ocasión en que fui, por primera vez, visitarlo. Yo era un joven fraile agustino y fui con mía confraria. Gastamos casi dos días de viaje hasta llegar a la prelatura de São Felix do Araguaia, en el norte del estado del Mato Grosso. Aunque con algunos avances y un mayor tramo pavimentado, Escribano tenía razón cuando escribió: “la carretera en el Mato Grueso es una gran aventura”. Carretera de tierra, crateras, polvo y lama aún son realidades de aquella región.
No imaginaba que dos años tras esta visita yo sería agraciado con la invitación para pasar una temporada pastoral en aquella prelatura. El provincial de la, entonces, mi Orden Religiosa, el catalán Pablo Gabriel Blanco, me concedió esta oportunidad y me posibilitó residir en la casa del obispo Casaldáliga para auxiliar en los servicios y actividades generales.
La descripción de Escribano mantén-se fiel y describe bien el local donde fui vivir: “La casa donde vive Casáldaliga en São Félix no es ningún palacio episcopal. Es pequeña, de un suelo planta, y no hay en ella lujos ni signos de distinción. La puerta de la casa del obispo siempre está abierta.”[5]
Al llegar fui muy bien recibido con la sonrisa de Deolice, la mujer que nos auxiliaba con los servicios; y con el abrazo fraterno del fraile Paulinho, el coordinador de la casa y de las tareas que envolvían la agenda de Casaldáliga. En una silla, estaba Casaldáliga, que me acogió con un abrazo y me preguntó: y la lucha?  Para quien lo conoce sabe que esta es el saludo inicial hecha por él.
Les confieso que por un momento quedé entristecido cuando lo vi muy debilitado. La enfermedad de Parkinson, poco a poco reducía su movilidad. Pero, inmediatamente me di cuenta de que Pedro trataba aquel asunto con mucha naturalidad: “tengo un hermano que no se aparta más de mí. Yo debo acoger lo Parkinson con un hermano”, me decía.
El ambiente en São Félix, en el inicio de 2013, era de mucha tensión. Nada muy diferente de la atmósfera que ha dominado aquel pedazo de Brasil en las últimas décadas, sobre todo desde que el Obispo Casaldáliga decidió optar claramente por las causas de los pobres y declararse contrario a los grandes terratenientes de la región que subyugaban el pueblo y esclavizan-les la vida.
“La toma de posición de Casaldáliga fue una declaración de guerra. Lo, para ser @exacto, en una guerra que hacía tiempo. Una decisión que sería el origen de muchos de los problemas y conflictos que debería vivir en el futuro y que le creó enemigos poderosos, pero que le ayudaría a encontrar unos amigos para toda la vida: sus pobres del Evangelio” [6]

Cuando miramos 2013 y los escenarios a él correspondientes, constatamos que los efectos de este enredo están lejos de un término. Meses antes, en 2012, la región había protagonizado escenas de mucho horror ocasionado por el conflicto entre indígenas y latitudinarios. Uno tsunami de violencia más una vez inundó aquel paisaje.
Este conflicto fue resultado de la definición del Gobierno brasileño, que decidió reconocer y garantizar el derecho de una gran tribu indígena retomar y ocupar las tierras que un día fueron -les retiradas.
Este gran territorio indígena fue ocupado ilegalmente por latitudinarios y hay muchos años esta situación era denunciada por la Iglesia del Araguaia. No tardó para que los terratenientes asociaran este hecho a la causa defendida por Casaldáliga. ¡De facto lo era!
Esto rindió, más una vez, al obispo de las grandes causas nuevas amenazas de muerte.
Fueron incontables tentativas y amenazas que Pedro y su equipe de la prelatura recibieron desde la década de 70.
 “Son pocas a veces en que los pobres, los negros, los indígenas tiene sus derechos garantizados. Aún así esto incomoda mucha gente grande. Los dueños del dinero no juguetean. No es la primera, ni será la última amenaza, confidencio-me. Por eso la lucha tiene que continuar.”[7]

El Libro de Escribano trae detalles de esta vía cruz marcada por amenazas y muertes y Pascua. 
Pocos días después de mi llegada a la prelatura se dio la elección del Papa Fancisco. Este acontecimiento llenó de esperanza a Casaldáliga y a todos los que defienden una Iglesia en salida y que se coloca como un ejemplar diaconal, devotada a servir las grandes causas de la humanidad.
En la misma semana de la elección papal, Casaldáliga, en correspondencia con el Nobel de la Paz, Pérez Esquivel, encamina un pedido al nuevo Pontífice: pidió una especial atención para con los pueblos amerindios, con los amazónicos, con los pobres y excluidos de toda suerte y también una reconciliación para con los teólogos y teólogas de la liberación.
Efectivamente Esquivel hizo llegar al papa el llamamiento de Casaldáliga.
          Con ejemplos así, Casaldáliga se mantuvo fiel a la suyas causa. Siempre nos recordaba la máxima de Ortega y Gasset: yo soy yo y mis circunstancias. Como obispo de la liberación produjo uno cantidad de poesía y escritos que alimentan la lógica de un Dios libertador.
Sin embargo, desde los anos de 1980 hubo, en Brasil y en las Américas, un creciente emprendimiento de combate a la teología de la liberación. Por consecuencia surge una fortísima corriente de alienación neopentecostal, que se estructuró a partir de una nueva teología, en cierta medida patrocinada por intereses del gran mercado e incentivada, en cierta manera, por el propio Vaticano. Se trata de la teología de la prosperidad, totalmente contraría a los valores y vectores defendidos por la teología de la liberación.
Mientras a teología de la liberación dedicaba se  en la formación del espirito colectivo y comunidades del pueblo, y defendía que, el Reino de Dios, para realizarse, debería observar e incentivar la emancipación total de la humanidad,  a través de valores como: la ética del cuidado; la libertad; a soltura de las cadenas; la unidad: hombre, naturaleza y cultura; y sobre todo el incentivo a la participación política; a teología de la prosperidad surge como movimiento totalmente el contrario pues: incentivaba lo acúmulo de bienes; lo individualismo; la relación narcísica entre Dios y el hombre  y un fuerte distanciamiento del cristiano de la política.
Cuando la Teología de la Liberación preparaba el pueblo de Dios para un proceso emancipatorio; del Dios de la vida; La Teología de la Prosperidad nos incentivaba e incentivaba, en las entre líneas, a la servidumbre del Dios mercado.
Venimos con eso, a partir de los años 80, el fortalecimiento capcioso de una religión narcisista y no comprometida con la vida comunitaria. Una teología que abandonó las radicalidades vivenciadas en las pequeñas comunidades para dar lugar a la superficialidad de eventos como coachig celebracion, misas shows que reúne cada vez más multitud de individuos movidos por una fe particular que forman un verdadero enjambre religioso.
Concomitantemente, la ofensiva a la Teología de la Liberación seguía la misma ofensiva por la cual pasaban los países socialistas en aquellos años.  La Teología y los teólogos de la liberación hasta hoy son asociados al marxismo, lo que, de cierta forma, tiene su debida correspondencia, no se puede negar, pero, segundo Casaldáliga, “miente quien afirma que la Teología de la Liberación se inspira en el marxismo: la Teología de la Liberación se inspira en el Evangelio y en la pobreza.”[8]
A mí me parece que la misma lógica que pasó a imperar a partir de la llegada de esta nueva teología se aplica a la desarticulación política que actualmente despunta en Brasil. Esta fue también la lectura que Casaldáliga hizo, por ejemplo, de los movimientos de 2013, que tomaron las calles del país, conocidos como movimiento Catraca Livre, posteriormente rebautizado de Movimiento Vem para Rua.
Pedro, aún con la fragilidad causada por el Parkinson, se mantenía muy atento a la coyuntura política, social y eclesiológica local, nacional y mundial. Siempre tenía una colocación a hacer, acerca de los temas más importantes del momento. Así, acompañamos atentos a las grandes manifestaciones de 2013 y así Pere nos alertaba:
Si estuviera consciente de la fuerza que tiene, este pueblo cambia el mundo. Pero si estas personas que hoy ocupan las calles no tengan la conciencia política de sus causas, inmediatamente serán olvidadas. Si este movimiento sea sólo un acto festivo, sin conexión a una causa, que verdaderamente corra como sangre en sus venas, estas manifestaciones no pasarán de una fiesta a la fantasía y este pueblo corre gran riesgo de ser utilizado como mercancía expuesta a la negociación de los intereses de los grandes, los señores del capital.[9]

La preocupación expresa por el obispo es muy pertinente y ya prenunciaba lo que Byung Chul Han vino a llamar de Sociedad del Enjambre[10]. Pedro ya demostraba la preocupación con baliza cualitativa de tales actos. Aquel movimiento en las calles, que se proclamaba sin liderazgo y que se estructuró a partir de invitaciones hechas en redes socias, puede ser mejor entendido pelo lo que nos afirma Byung Chul Han:
Los suyos paradigmas colectivos de movimiento son, sin embargo, como de animales que forman enjambres, muy efémero e inestables. (…) Además de eso, ellos frecuentemente pasan una impresión de ser carnavalescos, lúdicos y no compromisos.[11]

No tardó para que aquella tempestad de indignación, de 2013, si transformara en una gran arma contra la Política y contra el Estado, como advertido por el obispo.
El mismo año aquellas inmensas manifestaciones fueron cooptadas por movimientos derechistas y de extrema derecha, resultando en el fortalecimiento de una plataforma que dio origen a la, hasta entonces impensada, militancia derechista. El producto de aquellas manifestaciones resultó, años el frente, en la elección, en 2018, del presidente Jair Bolsonaro.
Casaldáliga defiende y apuesta en la fuerza del pueblo, pero siempre nos dio señal de que esta fuerza popular debe ser conectada al hacer político. Incluso una rebelión contra un determinado gobierno, por ejemplo, debe ser hecha a partir de la intencionalidad política y de la madurez de la conciencia del pueblo que a ella se afilia. En uno de sus poemas nos dice:
Con un callo por anillo,
monseñor cortaba arroz.
¿Monseñor “martillo
y hoz”?
Me llamarán subversivo.
Y yo les diré: lo soy.
Por mi pueblo en lucha, vivo.
Con mi pueblo en marcha, voy.
Tengo fe de guerrillero
y amor de revolución.
Y entre Evangelio y canción
sufro y digo lo que quiero.
Si escandalizo, primero
quemé el propio corazón
al fuego de esta Pasión,
cruz de Su mismo Madero.
Incito a la subversión
contra el Poder y el Dinero.
Quiero subvertir la Ley
que pervierte al Pueblo en grey
y al Gobierno en carnicero.
(Mi pastor se hizo Cordero.
Servidor se hizo mi Rey).
Creo en la Internacional
de las frentes levantadas,
de la voz de igual a igual
y las manos enlazadas…
Y llamo al Orden de mal,
y al Progreso de mentira.
Tengo menos Paz que ira.
Tengo más amor que paz.”[12]

El título de este congreso, en el cual se pregunta por el Fin de la Justicia se presenta oportuno cuando asociado a las causas de Pedro. La Justicia siempre fue una promesa aplazada para los pobres y para los excluidos en mi país. Por eso, la lucha debe continuar!
          La influencia catalana norteo la conducción pastoral y política de Casaldáliga. En una del pasaje del libro de Escribano, Pedro dice:
“yo creo que ahora soy malas catalán que hace treinta lo cuarenta años. El hecho de vivir de cerca las huchas y las reivindicaciones de los pueblos indígenas me ha  devuelto un poco a mi maltratada tribu, y quizá el hecho de ser catalán  me haya ayudado a ser malas sensible con los problemas de lengua y de identidad de los indios y a en el caer en  la tentación  del imperialismo cultural. .. yo siento cada vez con malas fuerza mis raíces.”[13]

Con raíz catalana el árbol de la esperanza preparaba los frutos brasileños y latino americano, que se expresan por la pluralidad de sueños y utopías.
La voz ronca, con fuerte acento barcelonés, ayudó, en las últimas décadas, los pobres de mí país a gritar por Justicia.  Gritó en favor de las mujeres, gritó en favor de los negros, gritó en favor de los indígenas, gritó en favor de los campesinos, gritó en favor de los excluidos, pero por encima de todo, gritó y denunció contra la opresión y la desigualdad social causadas por el poder del capital.
La vida de Casaldáliga forma parte de un grande enredo del cual, de alguna forma, estamos todos envueltos.
Nosotros que luchamos por un Estado de social y democrático de Derecho; nosotros que anhelamos la libertad y la consolidación de la democracia; nosotros que confiamos en la Pascua de un Dios libertador estamos íntimamente conectados a las grandes causas de Pedro.
Por eso nos es muy significativo estar en Barcelona en este encuentro. Aquí podemos testificar, más una vez, que el espíritu inquieto y temoso de Casaldáliga, continúa a alimentarnos en la fe. Su voz no envejece. Sus banderas continúan siendo las banderas por las cuales luchamos.
Mientras la Justicia no cumple su fin, su finalidad, seguimos unidos en la misma lucha de siempre, la lucha de nuestro profeta, de nuestro poeta, de nuestro hermano catalán brasileño. Que nuestras luchas sean mayores del que nuestras vidas. Sigamos luchando por las libertades y contra las opresiones. Que la voz del pastor permanezca viva, especialmente en este momento de muerte a nuestro alrededor.


[1]Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Borges Horta; Especialista em Formação Política para Cristãos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Licenciado em Filosofia pelo Instituto São Tomás de Aquino de Belo Horizonte; E-mail: joaomiguel@ufmg.br
[2]HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. Trad. Maria Rodrigues. 2 ed. Brasília: EdUnB, 1999, p 50.
[3] HORTA, José Luiz Borges. Desde el asiento de su enseñanza en la Universidad Federal de Minas Gerais.
[4] ESCRIBANO, Francesc. Descalzo sobre la tierra hoja: vida del obispo Pere Casaldáliga. Trad:Antoni Cardona. Barcelona: Ediciones Península, 2000.
[5] ESCRIBANO, Francesc. Descalzo sobre la tierra hoja: vida del obispo Pere Casaldáliga. Trad:Antoni Cardona. Barcelona: Ediciones Península, 2000, p. 29.
[6] ESCRIBANO, Francesc. Descalzo sobre la tierra hoja: vida del obispo Pere Casaldáliga. Trad:Antoni Cardona. Barcelona: Ediciones Península, 2000, p. 33.
[7] CASALDÁLIGA, Pedro. En conversación en su casa durante el almuerzo de domingo.
[8] ESCRIBANO, Francesc. Descalzo sobre la tierra hoja: vida del obispo Pere Casaldáliga. Trad:Antoni Cardona. Barcelona: Ediciones Península, 2000, p.56.
[9] CASALDÁLIGA, Pedro. Haciendo una interpretación a respecto de los movimientos sociales que ocurrieron en 2013, en el Brasil.
[10]  HAN, Byung-chul. No Enxame: perspectiva do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.
[11] HAN, Byung-chul. No Enxame: perspectiva do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018, p.30.
[12] CASALDÁLIGA, Pedro. Me Llamarán Subversivo. Poema de 1972.
[13] CASALDÁLIGA, Pedro. In: ESCRIBANO, Francesc. Descalzo sobre la tierra hoja: vida del obispo Pere Casaldáliga. Trad:Antoni Cardona. Barcelona: Ediciones Península, 2000, p.248.

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